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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O Bolo

Durante a minha infância, uma personagem de vulto preencheu o meu imaginário e também os meus tímpanos de grande forma. Uma senhora roliça, no que deveriam ser os seus quarenta e poucos anos, carregava uma cesta de vime à cabeça e um saco na outra enquanto dizia, alto e bom som, durante uns 10 segundos de cada arcada:

“Há boliiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinhos!”

Aquilo naturalmente punha as orelhas em pé a qualquer um! A mim em particular por que me fazia um arrepio que me subia desde o fundo das costas até ao  pescoço, muito devagarinho e, mais ainda, se hoje me poria os pelos em pé, naquela altura nem pelos para isso tinha pelo que, a coisa era pior ainda!

Era um manancial de bolos carregados desde o Alto de Campolide, pelo tarujo e até à Serafina através das escadas mais incómodas do mundo, as que vão da estaçãod e Campolide até lá acima à Rua Larga, que na realidade não tem dois carros ligeiros de largura mas que, naquela altura, parecia ter o nome ideal pelo tamanho. Fica ao pé do ferro velho onde íamos vender sacas com cartão com matacões dentro para as sacas pesarem mais e dar para um gelado... As coisas que nos lembramos a partir de um bolo.

Bem, o bolo por excelência é a pirâmide, porque é feito a partir dos restos de todos os outros bolos, com adição de chocolate dentro e à volta levando ainda chantilly e uma cereja no topo! Para mim era a coisa mais inteligente a comer porque enquanto os outros comiam um bolo, eu comia todos os bolos num só! Desde que um colega meu,d e alcunha “Saloio” e cujo pai era pasteleiro, me disse isto, nunca mais deixei de comer pirâmides até que um dia me lembrei que, secalhar, e a apenas secalhar, havia um motivo para a alcunha dele ser aquela. Repensei e a partir daí como babás, por serem gostosos demais, (os da Pastorinha são um luxo), mas fico sempre a olhar pelo canto doolho para as pirâmides...as malditas!

Não comi muito bolos transportados por aquela simpática senhora, até porque a minha mãe não gostava de me dar dinheiro para comprar bolos na rua. De facto, aquilo transportado à torreira do sol, apenas com um guardanapo de renda em cima,não era das melhores coisas do mundo e, agora que penso nisso, quando comprava um bolo, a senhora andava sempre a enxotar as moscas. Se calhar era isso que lhe dava aquele gostinho...

 

Canela

27 de Agosto de 2010

 

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