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sábado, 6 de março de 2010

A área de serviço

Um dos flagelos do século XXI é sem dúvida alguma aquilo que de uma maneira comum nós denominamos a área de serviço. Ora, para além da função básica de abastecer o veículo de combustível, uma área de serviço é muito mais que isso.
Assim, divido a área de serviço, em dois tipos, a área de serviço comum e a de auto-estrada. Estas são como um conjunto matemático que é contido um dentro de outro porque a área de serviço comum está de facto contida na de auto-estrada.
Porquê? Porque a comum é composta de uma parte ultra-condensada onde podemos encontrar as promoções que nos fazem ganhar pontos e, se tivermos um cartão para tal com a marca da gasolineira onde podemos até, ganhar prémios como uma fantástica torradeira ou um carregador de isqueiro para telemóvel com 500.000 pontos. O prémio é recebido na própria bomba 6 meses depois. Um hábil truque para dessa hora em diante passarmos sempre lá a perguntar se o brinde já chegou ou não.
Daqui tiramos que, após gastar sensivelmente o mesmo combustível que um petroleiro transporta ou NASA gasta no lançamento do Space Shuttle, então somos dignos de ganhar algo como um leque para as noites quentes de verão. Para ganharmos uma ventoinha são os 500.000 pontos mais uns euros e a coisa compõe-se porque a própria marca sabe que, mesmo os camionistas e as empresas de camionagem, utilizando combustível dia e noite, jamais conseguiriam os pontos necessários para a ventoinha ou mesmo um kit de ferramentas plásticas e, assim sendo, dão a oportunidade de acrescentarmos uns euros e conseguir o ambicionado prémio.
Uma das partes da "bomba" é o expositor onde podemos encontrar pérolas da imprensa escrita como a Maxmen e a FHM, a auto-hoje, auto-amanhã e afins... Aqui encontramos de facto contornos de um verdadeiro serviço público, ao ser disponibilizada tal imprensa, livre de custos, para consulta. Se entendermos este ponto bem, é fácil perceber porque a ventoinha tem que valer 500.000 pontos e, melhor ainda, porque ninguém se queixa disso.
Tenho alguma dificuldade em descrever a próxima parte porque é um ponto "meio-comum"... Ora uma coisa ou é comum ou não é, pensava eu inocentemente antes de começar a escrever isto. De facto há coisas "meio-comuns". Reparem que, tendo uma zona de café (cá está a parte comum) há uma diferença entre as áreas de serviço comuns (agora bem vistas as coisas, o nome "comum" não foi muito bem consguido mas agora também já não vou mudar não é?)... Essa diferença tem a ver com a pessoa que se encontra a atender atrás do balcão (o que faz com que passe a ser "meio-comum", brilhante, não?! Vá lá, façam um esforço!
Se repararem bem o tipo de pessoa que está atrás da comum, e aqui falo da área de serviço, é uma pessoa afável que nos mete o açucar e a colher, de metal, no pires do café, dá-nos um guardanapinho por debaixo do bolo que pedimos, diz obrigado a olhar para nós e sorri com um ar pelo menos mais ou menos genuíno.
Na auto-estrada isto é uma miragem! Os bolos estão aprisionados dentro de fortalezas de Glad, (e só digo Glad, não por gostar mais desse, até por ter a certeza deles usarem outro tipo de papel plástico que custa muito menos e de pior qualidade, é porque é o único que conheço pelo nome) ali presos sem poderem respirar, os coitadinhos. Mete-me sempre dó observar como croissants e queques passam ali as manhãs amorfanhados e sem se poderem mexer fazendo olhinhos bonitos ali a quem passa como que dizendo "Papa-me, leva-me daqui para outro local melhor.", desconhecendo no entanto que, começando o proceso de serem comidos, o seu futuro mais que certo é,.... bom... adiante...
O café aqui é-nos servido com uma chávena em cima de um pires, sem açucar e as colheres são de plástico para dar aquele travozinho que tanto gostamos pela manhã. Somos nós, sim, o cliente, que vai andar dois metros para o lado em busca do pacote de açucar da miserável colher. Não tarda nada, vamos começar a ter um corredor para o café (sim, porque na auto-estrada não há fila de pré-pagamento para o café) onde iremos moer o café, dar duas bombadas de café do moinho para dentro do crivo de café e carregar nos botões para tirar a famigerada bica. Isto sob o olhar austero dos funcionários da área de serviço que me lembram sempre os carrascos em época de revolução prestes a pregar com um machado ou um aguilhotinada em cima de alguém. Depois de tudo isto, à saída, e por motivos ecológicos que têm a ver com a pegada de carbono, iremos plantar um pé de café que vem embrulhado num saco plástico que depois podemos mandar para o chão quando sairmos da área de serviço.
Mas, a grande diferença da área de serviço de auto-estrada prende-se com uma parte da loja, maior ou menor é certo mas que, surpreendam-se está lá sempre. Sempre, sempre, sempre.
A área dos peluches e souvenirs! Ora esta área faz tanto sentido a meio de uma auto-estrada como pagarmos IVA em cima do imposto automóvel quando compramos um carro. Pergunto eu; Quem no seu juízo perfeito vai a Pardilhó utilizando a auto-estrada e compra para um ente querido seu um peluche ou um CD? E mais, vamos admitir que até temos uma vontade incontrolável de o fazer, qual a dedicatória de tal lembrança? Comprado na A1 a caminho de Pardilhó?
Canela
Leiria, 5 de Março de 2010

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Eu não lhe chamaria flagelo. Porque me parece ser um sítio fantástico, daqueles onde se compram pastilhas elásticas, onde se pede um chá e às vezes se tem a fantástica surpresa de encontrar um bule que não entorna e onde se troca de roupa ao pé coxinho num wc apertado porque a dança nos espera, a tranpirar de quente...
    RS

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