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quinta-feira, 25 de março de 2010

O Barbeiro

Sendo eu um rapazola de Campolide, existiam basicamente três sitios onde ir cortar a trunfa quando era mais miúdo. Hoje restam dois a funcionar, um delesd onde trabalha a filha do antigo dono que teve até honras de notícia de jornal, chamado o Barbeiro de Campolide. Como não sou dado a plágios, entitulei a edição de hoje de apenas “O Barbeiro” embora seja dedicado a dois deles.

Digo a dois porque o que já fechou era uma besta, paz à sua alma! Era uma besta porque sou pouco dado a esquecer-me do que as pessoas me fazem, em especial a barbeiros estúpidos quando eu tenho 5 anos. Bem sei que foi há 29 anos mas, o que é que querem? Estas coisas não me passam assim tão depressa. Teve a ver com um desaguisado que meteu o meu pai ao barulho e, mesmo com 5 anos, já tinha mau feitio que sobre para ter decidido que:

1- Nunca mais lá ia.
2- Se a internet aparecesse, havia de lhe dedicar um parágrafo a chamar-lhe nomes!

‘Tá no saco!

Dos outros dois, um já faleceu e era o grande Manuel Jorge, dono de uma bigodaça à antiga portuguesa, que está na Rua de Campolide (a rua mais central do país), em frente ao talho e ao Katekero. Ao lado dos melhores bolos reis do Universo! E eu nem gosto de bolo Rei! A filha tem um cabeleireiro onde o pai trabalhava e não posso deixar de achar bonitas estas coisas.

Por último, o fabuloso, o incomparavelmente inegualável, Arménio Fernandes que, como qualquer bom barbeiro que se preze, ostenta o diploma com o seu nome na parede. Afável, simpático e, claro está, Benfiquista. É uma religião com muito mais seguidores que a Católica Apostólica Romana embora estes últimos sejam mais cómicos e marotos!

Mas há alguma coisa, que pague um gajo ir cortar a gadelha e, após os cumprimentos da ordem ao barbeiro e restantes presentes, ouvir a pergunta; “E então o nosso Benfica?”?
É isto que se chama customer care, deixem-se lá de panfletos informativos e sondagens da treta, decorem o clube dos vossos clientes e perguntem-lhes o que acham daquilo! Resulta…. Sempre!

Para além de ser uma forma de manter o comércio tradicional é também a melhor maneira de preservar Lisboa antiga dentro de 20 metros quadrados. Já repararam que estes barbeiros têm sempre um rádio Philips, ou Grundig nalguns casos mais arrojados, com leitor de cassetes? Para os mais novos, procurem na wikipédia o que é uma cassete, mas adianto já que era um suporte para ouvir música, que começava com fita vermelha e/ou transparente e seguia para uma parte castanha/preta onde se gravava a música propriamente dita. Ora este rádio tem ainda mais uma ou duas peculiaridades, reparem… os botões são sempre de 2 ou 3 posições e são um botão mesmo, não têm botões mariquinhas nem ecrãs táteis.

Aliás, quando se diz iPhone o barbeiro pergunta “Ai o quê?!” com aquele ar que caracteriza os nossos avós ou pais quando se deparam com algum gadget modernaço que eles não sabes se é um isqueiro ou uma PEN USB! Não há mostradores digitais também e, até a sintonia do rádio é feita por meio de um botão que gira e que tem um mecanismo com umas roldanas lá dentro para, fazer andar a barra vertical que mostra a frequência na qual o rádio está.

Estes magos do corte do cabelo sabem de cor as frequências dos rádios e RDS para eles é uma sigla que deve ter a ver com impostos e de que não se fala no trabalho.

Ir ao baieta, agora que falo nisso, tinha uma particularidade quando era puto, que era de levarmos um caldo de cada um dos nossos amigos no dia em que cortávamos o cabelo. Era uma bela tradição, não era? Ainda para mais que são raros os putos carecas…

Ainda acerca do barbeiro, há que falar daquela carrada de produtos que estão numa prateleira dentro do balcão e que acho que nunca foram comprados por ninguém embora tenham preço na caixa. Falo obviamente daquelas barras brancas para estancar o sangue, reminiscências do Sweeny Todd com certeza, e que “arrrrrrrrrrrrrrrrrrrrde pa xuxu!” e das ampolas castanhas – a sério, já não basta aquilo ser produto para queda do cabelo, ainda por cima têm de ser castanhas ????- que estão dentro de caixas de cartão que as mantêm estoicamennte eretas, uma espécie de Viagra ou Cialis para ampolas de vidro.

A última menção que aqui deixo, é acerca do esquentador com o famoso coelhinho da Vaillant que, todos estes barbeiros usam porque acho que deve fazer parte do pedido de Alvará à Câmara Municipal. Vendo bem as coisas, já percebi porque o Manuel Jorge tinha o talho ali em frente…

Canela,

Campolide, Lisboa, 25 de Março de 2010.

1 comentário:

  1. Atrevo-me a perguntar: a qual deles vais?Ao Benfiquista ou à filha do dono? Quase diria que adivinho; só não o faço porque não sei a idade da moça nem o tamanho do peito:-)
    RS

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