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segunda-feira, 15 de março de 2010

Gente do Aeroporto

Como já deve de ter reparado, existe em cada cidade de dimensão minimamente considerável um país, (não cheio de côr como na abelha Maya, perdão... Maia) dentro do próprio país. A essa nação pseudo-garbosa e elitista chamamos nós, os "outros", aeroporto. Não é uma sensação de complexo de inferioridade minha. É uma constatação mesmo, senão, vejam...

Logo que entramos as portas do aeroporto, mesmo que sejam as das chegadas ficamos ligeiramente entorpecidos e quase que embriagados pela atmosfera contagiante daquela gente que usa fardas cómicas e com galões aos ombros. Não falo apenas dos pilotos mas de toda a gente que popula um aeroporto. Embora pareçam ter saído de um filme de desenhos animados, parecem estar encantados com isso e, na Terra do Nunca, as coisas correm sempre de feição ao Peter Pan. Pena é que, alguns tenham mais aspecto de Capitão Gancho.

Até as senhoras dos cafés, que estão antes da famosa revista anti-terrorista já usam de um jargão próprio e nos respondem, como se nos estivessem ali a servir o café e a fazer-nos um enorme favor ao mesmo tempo. Claro que tudo isto acontece enquanto pagamos o mesmo preço de um cozido à portuguesa, por um rissol de camarão. Os copos de água são servidos com um franzido de sobrolho e, é sugerida a garrafinha de água, coisa que, nós, os mais tesos e que compraram vôo low cost dispensam bem. Tenho sempre a clara sensação que estes cafés têm acordo com as companhias tipo Easy Jet porque, tenho a clara sensação, (embora nunca tenha confirmado) que já paguei o mesmo pelos cafés e croissants do pequeno almoço, do que pela viagem. Lá está, poupa-se no vôo para depois pagar à grande no pequeno-almoço. Mas quem é que se preocupa com isso? Afinal já estamos praticamente no estrangeiro e mesmo os mais tesos fazem vista grossa quando toca a pagar 8€ por um bolo rameloso com bom aspecto mas que só sabe a açucar.

Logo que vamos para os balcões de check-in após ter visto se o vôo está a horas e o número do balcão, olhando intensa e atentamente para o display que nos mete os olhos em bico com todas aquelas linhas.

Prestes a chegar ao balcão de check-in lá se nos deparam pela frente os eternos pinos que anunciam com uma cara simpática "faça fila aqui!" mesmo que não haja vivalma naquele sítio. Deste modo, podemos sempre andar 250 metros aos "esses" para percorrer os 3 metros e meio em linha reta que nos separavam da menina que faz aquel sorriso amarelado que bem conhecemos.

Lá está a moça, enterrada no meio de um balda de maquilhagem que meteu meio à pressa para chegar a horas ao trabalho e isso nota-se bem! Ali estamos nós com algumas 4 horas de antecedência para viajar, mal dormidos, (notem que isto é feito propositadamente para terem alguma vantagem sobre o nosso normal descernimento e capacidade de raciocínio) e começamos a ter aquele sentimento que aquela senhora, que introduz um código e tira um autocolante de uma impressora para colar na nossa mala, tem um qualquer poder sobrenatural e, qualquer olhar fora do normal e qualquer "...pois..." que dali saia, nos faz pensar que a nossa vida estará arruinada a partir dali porque a nossa mala tem 250 gramas de peso a mais ou, Deus nos valha, se a nossa bagagem fôr designada como "fora do formato". Ora, pergunto eu, que formato? Isso não podia estar escrito no bilhete ou coisa assim?

Não, tem que ser aquela senhora que tem mais base na cara que o Onassis tinha dinheiro que nos traz a boa nova e que, por causa de ter metro e meio de não sei quê e não sei que mais de largura e peso de não sei quantos, vamos ter de meter aquilo não sei onde depois de passar os seguranças e não sei que mais. Ora os seguranças de aeroporto estão convencidos que fazem parte da CIA, FBI e do SIS, ao mesmo tempo ou, por turnos! São mais uns com umas fitas em cima dos ombros que fazem ar de quem está na tropa e que são verdadeiros operacionais no campo de guerra. Olham para nós de queixo levantado, mirando-nos de alto a baixo, inspeccionam-nos os Bilhetes de Identidade, Cartões de Cidadão ou Passaporte com ar de quem tem um chip implementado nos olhos e que está a fazer uma digitalização permanente do que vê e em comunicação com uma qualquer central actualizada com a nossa informação. Até da côr e forma da roupa interior!

É gente de outra estirpe, é gente de aeroporto...

Amanhã há mais...

Canela

Lisboa, 15 de Março de 2010

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