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terça-feira, 4 de maio de 2010

O casamento

Escrevo-vos hoje acerca do casamento, não como instituição (ao que se diz, falida) mas como cerimónia em si. Todos, de uma maneira ou de outra já participámos neste espetáculo que tudo tem para correr bem mas que... leiam lá…

Tipicamente o casamento é marcado para o famigerado fim-de-semana embora casais mais engraçadotes lhes dêem agora para marcar aos dias de semana, até porque está in e sai mais barato.

O evento começa bem cedinho com a noiva a ter de se levantar ainda antes do galo por causa da cabeleireira. Ainda me hão-de explicar porque carga de água as mulheres se podem demorar 3 horas a arranjar o cabelo e depois lhe metem um véu ou qualquer outra coisa com artefactos a imitarem pérolas por cima. 3 horas?! A sério, mas vão fazer o quê?! Esculpir uma Notre-Dame no alto da pinha da moça?! Adiante…

O Noivo é mais simples de vestir e, pese embora aquelas faixas que fazem mais lembrar que o rapaz vai para a tourada do que para o casamento, (e cuidado com esta conversa taurina mesclada com casamento, que normalmente dá mais resultado) tirando uma ou outra coisa, até parece que vai para uma reunião ao fim-de-semana.

As perguntas dos convidados seguem com a habitual cadência parva dizendo que ainda têm 24 horas para recorrer, numa tentativa patética de forjar o que se chama de humor de casamento, que só tem piada naquele dia e que até a pessoa que usa essa frase, se sentiria embaraçada se a usasse noutro qualquer dia. Há aqui tempo para mostrar os autóveis que são mesmo dos convidados ou que foram alugados especialmente para esta data com intuito de impressionar os outros convidados.

É mesmo isto que o casamento é, a data perfeita para poderem mostrar aos outros aquilo que na realidade não, são mas que gostavam de ser! Desde as malinhas pirosas de senhora, às dietas feitas a muito custo umas semanas antes, à pressa, temos de tudo. Claro que isto é sol de pouca dura porque, depois da dita cerimónia, o verniz, que nem tempo de secar tem, estala pronta e subitamente.

Antes disso temos o casamentozinho pela igreja (com o i pequeno, claro está), ou pelo civil. Ou os dois que faz deste dia uma verdadeira maratona automóvel com muitos carros a percorrerem por vezes 250 metros de distância. Por mim tudo bem porque acho que as pessoas deviam pagar um imposto de andar a pé pelo que gastam de pedra de calçada… Isso e porque sou um bocadito calão. O casamento decorre na habitual tranquilidade, a menos que o padre seja uma besta e comece a gritar com a noiva logo que ela entre na igreja por ter chegado os académicos 15 minutos atrasada. Eu vi isso a acontecer por isso nem se riam desta parte. A igreja no seu melhor.

Entre arranjos de florzinhas na igreja, que toda a gente gaba mesmo sem ter lá visto flores, ao vestido da noiva, esse célebre vestido que serve para aquelas 2 horas e meia entre a cerimónia e o copo d’água tudo vai no seu melhor. Mesmo quando a noiva aparece com a tal Norte-Dame na tola e nós ficamos a pensar com quem diabo afinal o Zé Carlos se vai casar. Nós que até conhecíamos a miúda. De repente ela aproxima-se e vemos que é ela mesma mas que parece estar disfarçada! Lembramo-nos de que a última vez que vimos uma quantidade de base deste calibre exceptuando num salão de beleza foi na cara de uma tia avó com para cima de 300 anos.

Beijinhos, flores, arroz para cima dos noivos…

E uma barrigada de fome até às 4 e meia da tarde porque alguém se lembrou que era bonito ir-se até ao outro lado da cidade tirar as fotografias do casamento em animada excursão, buzinando sempre como se de um jogo de futebol se tratasse. Afinal, não há uma buzinadela de casamento. Proponho aqui uma que poderia ser duas semi-colcheias e uma colcheia em anacrusa num compasso binário simples, duas semínimas e duas colcheias com uma pausa de duas semínimas a seguir. Perceberam? Se não vão aprender para a net que faz falta a toda a gente.

Lá se chega ao opíparo almoço, sempre acompanhado com o habitual conjunto de bailarico que, dê por onde der, seja o casamento onde for, toca Quim Barreiros, o tal que toda a gente faz pouco da sua música mas sabe a letra ali à grande e à francesa. Eu acho divertido… em especial porque aqui os tios e as tias que vieram de longe já têm os sapatos bonitos tirados dos pés. O verniz já não vale nada e as gravatas são um utensílio que faz o pai do noivo parecer o Stalone no Rambo, com a fita em volta da cabeça. Está dado o pontapé de saída para o regabofe alucinante que se passará até ao corte da gravata do noite, leilão da liga da noiva e outros truquezinhos para fazer alguns dos mais agarradinhos ao dinheiro darem mais qualquer coisinha para a prenda, que ninguém quer, mas que agradece e bem. Isto tudo para ajudar o início de vida dos noivos claro está.

Um início que sabemos que vai ter as suas dificuldades porque há muita coisa a comprar para a casa nova que compraram recentemente.

É por isso mesmo que os noivos, por saberem o que se avizinha, partem rumo a uma ilha paradisíaca para estourar uma pipa de massa numas ferias de 15 dias à conta dos familiares próximos.

É hora de ir para casa, e as mesmas pessoas que ostentavam echarpes caríssimas de manhã, aproveitam agora para levar uns queijos e uns bolos “para não se estragar”…

Digam-me lá, é ou não é uma festa linda?!

Canela

Oeiras, 3 de Maio de 2010

2 comentários:

  1. Tão linda, tão linda, que poucos querem repetir... Deve ser para não estragar o encanto... No meu caso, recebi beijinhos, flores e arroz mas felizmente não tive Quim Barreiros nem similares.Obrigada mãma... E também não penso repetir(*). A não ser que alguém sorria para mim e esse sorriso seja mesmo especial!

    (*) Não disse o quê:-)

    Raio de Sol

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  2. Nem todos os casamentos são iguais, e eu tenho orgulho em dizer que o meu nao foi banal, alias foi mm sui generis!
    Não houve escultura no cabelo, quim barreiros e similares e o vestido durou o dia inteiro (foi caro, portanto há que usufruir ao maximo dele)
    Repetiria se fosse necessario, renovar votos claro!

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